Foto: Tiago Lourenço 2005I – A ida de mim
Acendo mais um cigarro. Bebo outro trago amargo na solidão escura da noite mal iluminada.
Sentado no chão. Meio despido, meio vestido. A mão direita afaga o braço direito. E sinto-me. Sinto-me mais humano. E choro.
As duas mãos tocam-me a face.
Deito-me de costas.
O tecto escuro... Não consigo pensar... Injecto-me outra vez. Os arrepios sobem por mim.
Sabe bem. Sabe bem o prazer que ressurge em mim.
Os olhos reviram-se.
E no minuto em que tudo se passa à nossa frente, no minuto em que sabemos que não vamos conseguir viver, no minuto que a morte aguarda à porta da sala, penso em tudo o que nunca tive tempo para pensar.
E errei em muita coisa. E muita coisa errou por minha culpa.
Vagueei por ruas escuras. Quando de dia tinha a certeza de que saberia o caminho de volta. Arrisquei tão cedo.
Agora estou prestes a partir.
A deixar tudo o que sempre me passou ao lado por orgulho. Por saber que tudo depende de mim. Por saber que basta um pouco de mim para que tudo o que quero esteja bem… connosco. E mesmo que não esteja não sou eu que fico a perder.
Agora estou prestes a partir…
Deixo saudade a muitos.
O sangue esvai-se pelos olhos… e murmuro de dor e sofrimento.
Do tecto pingam gotas que me tocam o corpo quente.
Quem me ama está no quarto ao lado.
Não quero acordar ninguém… deixem-me decidir o que quero desta vez. Pensar.
As forças vão-se… e com elas se vão os sentimentos. O amor… a dor… a solidão que sentia tão intensamente…
Acabou… acabou tudo agora.
E o que mais peço é que ninguém entre agora na minha sala e me toque. E chore porque eu não estou. Chore sabendo que não mereço.
Um homem quando morre por sofrer deve morrer como quer…
II – A chegada de mim
Vagueio pela sala.
Deambulando por ali sem pensar no que em mim quero que aconteça.
A tristeza derruba-me.
A impossibilidade de chorar faz-me soltar murmúrios. Murmúrios de quem grita por dentro. Pequenos sons abafados germinam da pele quente.
Esquartejo-me. Choro de dor. Aproveito para sentir como se chorasse de tristeza. Tão lindo o sentimento que sempre me acompanhou e que nunca soube exprimir.
Não sou feliz mas sei o que é ser triste. Assim saberei como seria se fizesse o que querem que faça.
Tenho problemas. Admito. Mas não é por isso que sou menos que todos.
As seringas olham para mim. Olham por mim.
Aguarda-as um braço virgem.
A água provoca efeitos em mim… a água na seringa provocará em mim o maior sorriso de todos. O sorriso de quem sorri porque sabe que deixará de ser triste…
Acendo mais um cigarro. Bebo outro trago amargo na solidão escura da noite mal iluminada.
Sentado no chão. Meio despido, meio vestido. A mão direita afaga o braço direito. E sinto-me. Sinto-me mais humano. E choro.
As duas mãos tocam-me a face.
Deito-me de costas.
O tecto escuro... Não consigo pensar... Injecto-me outra vez. Os arrepios sobem por mim.
Sabe bem. Sabe bem o prazer que ressurge em mim.
Os olhos reviram-se.
E no minuto em que tudo se passa à nossa frente, no minuto em que sabemos que não vamos conseguir viver, no minuto que a morte aguarda à porta da sala, penso em tudo o que nunca tive tempo para pensar.
E errei em muita coisa. E muita coisa errou por minha culpa.
Vagueei por ruas escuras. Quando de dia tinha a certeza de que saberia o caminho de volta. Arrisquei tão cedo.
Agora estou prestes a partir.
A deixar tudo o que sempre me passou ao lado por orgulho. Por saber que tudo depende de mim. Por saber que basta um pouco de mim para que tudo o que quero esteja bem… connosco. E mesmo que não esteja não sou eu que fico a perder.
Agora estou prestes a partir…
Deixo saudade a muitos.
O sangue esvai-se pelos olhos… e murmuro de dor e sofrimento.
Do tecto pingam gotas que me tocam o corpo quente.
Quem me ama está no quarto ao lado.
Não quero acordar ninguém… deixem-me decidir o que quero desta vez. Pensar.
As forças vão-se… e com elas se vão os sentimentos. O amor… a dor… a solidão que sentia tão intensamente…
Acabou… acabou tudo agora.
E o que mais peço é que ninguém entre agora na minha sala e me toque. E chore porque eu não estou. Chore sabendo que não mereço.
Um homem quando morre por sofrer deve morrer como quer…
II – A chegada de mim
Vagueio pela sala.
Deambulando por ali sem pensar no que em mim quero que aconteça.
A tristeza derruba-me.
A impossibilidade de chorar faz-me soltar murmúrios. Murmúrios de quem grita por dentro. Pequenos sons abafados germinam da pele quente.
Esquartejo-me. Choro de dor. Aproveito para sentir como se chorasse de tristeza. Tão lindo o sentimento que sempre me acompanhou e que nunca soube exprimir.
Não sou feliz mas sei o que é ser triste. Assim saberei como seria se fizesse o que querem que faça.
Tenho problemas. Admito. Mas não é por isso que sou menos que todos.
As seringas olham para mim. Olham por mim.
Aguarda-as um braço virgem.
A água provoca efeitos em mim… a água na seringa provocará em mim o maior sorriso de todos. O sorriso de quem sorri porque sabe que deixará de ser triste…
Luís Miguel Teixeira
Escrito em Outubro 2005
muddlealongme.blogspot.com
2 comentários:
Excelente união entre texto e foto! Abraço aos 2!
escreves bem. violento, mas bem.
boa tarde
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