Destaque - Texto

" Ratos. Que te comam. Que te esventrem e te suguem as entranhas. Que te enterrem meio vivo para pensares um pouco "

sexta-feira, setembro 14

KUSTURICA+MANU CHAO+MARADONA=?





Ao longo da história humana, uma grande dificuldade com que o homem sempre se debateu foi a distancia que nos separa não só em termos físicos (geográficos) mas também linguísticos. Encontrámos sempre formas de ultrapassar estas barreiras construindo estradas, inventando motores com rodas, cilindros metálicos com asas entre outras coisas (Internet?), mas mesmo assim, o muro não foi demolido tendo sido apenas esburacado. A verdadeira barreira não era a língua nem o espaço em Kms mas sim a forma como nos vemos uns aos outros e a expressão sensorial daquilo que nos vai na alma, encontrando assim o ponto de contacto entre o Homem. Algo que nos comova ou que nos revolte permite encontrar pontos de encontro com outras pessoas que tenham a mesma sensação das coisas como nós. Assim, podemos dizer que nasceu a arte em todas as suas formas visual, sonora e física. A junção eficiente das três vertentes, apesar de possível de varias maneiras, não encontrou ainda melhor forma que através do cinema. Aqui, entramos no domínio de Kusturika, o realizador sérvio mais demente e com o universo mais caótico que já se viu numa sala de cinema. O caos é o elemento que acaba por dar coerência à sua obra, sendo a heterogeneidade dos seus filmes o elemento que torna a sua obra homogénea. Um dos elementos que contribui e dá, no fundo, o ambiente aos seus mundos é a música na qual também participa através da sua não muito “No Smoking Band”. Aqui, juntamos um outro nome à história, o do “galego” Manu Chao, o irreverente homem da música do mundo. Alguém que assume o que é e faz com a naturalidade de alguém que é feliz consigo mesmo, e logo, não tem de se refugiar atrás de homens do sistema para traduzir o que ele pensa para o mundo dos comuns mortais, do qual todos fazemos parte. Estes dois “terroristas”, vão usar os seus sentidos para contar a história de uma das vidas mais invejadas, odiadas, amadas…enfim, controversas do século XX. “El Pibe” vai ver a SUA história retratada de uma forma única, e justamente, rodeado por um universo com o qual convive com grande naturalidade e respeito. Apesar de ser um dos homens que mais impressionou com a sua proximidade emocional com a bola, e que encantou todas as gerações, ao ponto de ser quase unanimemente tido como o melhor de todos os tempos, nunca deixou de se mostrar próximo do povo que o ama e do qual faz questão de fazer parte. Podemos dizer que são todos os três homens do povo e que têm aí talvez um dos mais importantes pontos de contacto. Este documentário, do qual se espera algo de realmente diferente, mas acima de tudo serve para mostrar como é possível a aproximação entre pessoas de mundos quase diferentes, mas que ao expressarem ao mundo, cada um da sua maneira, a sua forma de ser e a sua paixão, estabelecem pontes, ou melhor, laços com outras pessoas com as quais nunca teriam qualquer ponto de contacto senão através da arte.





Texto escrito pelo Bruno Cabral

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