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" Ratos. Que te comam. Que te esventrem e te suguem as entranhas. Que te enterrem meio vivo para pensares um pouco "

quarta-feira, outubro 11

Morreu-me o desgosto...


Morreu-me o desgosto... A vontade de me ir. De me deixar levar pela fraqueza...
Levanto a cabeça suja do pó que acumulo dia após dia. A face coberta de poeira seca-me cada lágrima que força a saída. Ficam em mim apenas as marcas de algum dia ter estado triste. As marcas que me recordam que um dia também senti.
Caminhando em direcção à luz. Na casa que escolhi para habitar. Ardem-se os olhos.
Dói saber que dói porque sou fraco e não aguento.
E quase que consigo ver.
Mas apesar de lutar como sempre, de sorrir quando tudo chora à minha volta, a fraqueza da carne leva-me a voltar para trás. Grito. Choro. Incendeiam-se-me os olhos. Deixo de ver a luz.
Apenas o laranja que via quando não forçava o olhar e fechava os olhos à mínima contrariedade. Volto para trás... De qualquer maneira, raramente os usei. Para me cortar não preciso de ver. Para beber o meu sangue e alimentar-me de mim basta apenas força de vontade. Mas agora sei que nunca mais verei, mesmo que um dia o quisesse. E isso entristece-me.
Pela primeira vez aguardo que a morte me venha buscar. Aguardo pacientemente. Não tenho pressa. Mas só me leva porque não consegui resistir.


Luís Miguel Teixeira

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