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" Ratos. Que te comam. Que te esventrem e te suguem as entranhas. Que te enterrem meio vivo para pensares um pouco "

sábado, dezembro 15

Votar: Direito ou Dever?



A democracia, enquanto forma de expressão, foi um direito adquirido com, ou no período após, o 25 de Abril. Esta data é importante para Portugal, pois representou o sair da obscuridade medieval que reinava e imperava no nosso país.

Vivíamos sobre uma nuvem negra de corrupção, censura, retaliação e estagnação que não nos deixava ver o que existia para além dela. É um período que apenas é relembrado a preto e branco, fruto do clima existente e vigente.

Após o passar desta tempestade, liderada por um grupo de militares e população, cansada de não poder ver luz e esperança, surgiram novos horizontes dos quais apenas se ouviam rumores de poderem existir. Uma das colorações que aprendemos a apreciar foi o voto.

Este era a novidade maior dum período tumultuoso, e que devolveu uma certa esperança, ou ilusão desta, para se poder mudar o nosso mundo com o seu poder eleitoral. Poder escolher quem queremos a dirigir o país era uma novidade maravilhosa mas também assustadoramente responsabilizante.

Para esta escolha ser efectiva, era necessário conhecer os conteúdos políticos e morais que os candidatos se proporiam a defender quando eleitos. Tudo muito bem. O problema surge quando a responsabilização da escolha não encontra reverso no empreendimento das promessas feitas em campanha eleitoral.

A subversão do discurso antes defendido, por atitudes perfeitamente antagónicas levou, entre outras coisas, ao descrédito da classe política existente. Isto conduziu à dúvida de quem vota se valerá verdadeiramente a pena votar. Se nos enganam, se nos mentem descaradamente e depois assumem a mentira como uma nova verdade absoluta, para quê votar? O direito a votar era inicialmente, tido como um dever, mas agora já não.

As percentagens de pessoas que participam no acto, tem vindo sucessivamente a diminuir. Podemos culpar tudo e todos mas, não seremos nós também parte do problema? Explico.

Se não nos fizermos ouvir, em termos legais, através do voto, apesar de haver outras formas igualmente válidas de participação activa na vida em sociedade e defesa dos valores que cada um sente e quer defender, quem quererá nos ouvir? Por vezes é o nosso próprio desinteresse que leva a este tipo de problemas. A inacção. O conformismo.

Votar é um direito mas, para mim, moralmente é um dever ao qual ninguém se deve imiscuir de ver exercido. Por maior que seja o descrédito dos políticos, por maiores que sejam as contingências sociais com as quais nos deparamos diariamente, não será isto um incentivo maior à participação nas urnas?

Votar não é só por uma cruz...entregar um boletim em branco é tão relevante como se fosse preenchido, reflecte o descontentamento com as opções presentes, e é uma forma legítima de indicar que não nos revemos em nenhuma das listas. Haverá sempre contingentes. Exemplo, alguém que viva em Lisboa mas esteja recenseado em Bragança, poderá não ter possibilidades de exercer o seu direito de voto. Mas estas pessoas estão deslocadas, por vezes por opção, mas noutras por necessidades pessoais, profissionais entre outras. Mas estas são razões que são aceitáveis e compreensíveis para não ir votar.

Agora se se pode, se apenas implica o despender de 5 minutos de vida, porque não faze-lo? Ou estamos tão felizes com a sociedade e politicas nela abrangidas, que a nossa inoperância e separação da intervenção social, é tida como justificável perante tanta injustificação?

Pensem, analisem, pensem e depois votem!

Embrulha...


Escrito por Bruno Cabral


PS: Concordando com muito o que o Bruno escreve neste texto, há certas questões que tenho outra perspectiva...tenterei quando tiver tempo escrever aqui um texto...para de alguma forma polemizar...já agora aos poucos leitores COMENTEM OS TEXTOS é sempre mais um contributo.

Por último dizer apenas que a escolha da imagem é minha...talvez o Bruno escolhesse outra...

3 comentários:

Anónimo disse...

bom texto..quanto à imagem remonta a um Portugal antigo mas a realidd d mts paises que infelizmente ainda se encontram sob a tutela d tiranos assumidos *

José Pires F. disse...

Um texto de cidadania e um bom texto.
Aliás, José Gil, explica isso muito bem no seu “Portugal, Hoje – O Medo de Existir” e, é de facto a falta de inscrição dos povos e neste caso dos portugueses que, leva à bandalheira política onde, tudo se promete em período eleitoral para depois na prática se proceder de forma contrária e com grandes custos para a população.

José Pires F. disse...

História Antiga

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.

Mas, por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga


Um Excelente Natal para ti e toda a família.